Hoje vamos focalizar uma historia interessantíssima que me foi contada por Cláudio, ex-gerente da náutica do “Iate”, quando do retorno de uma pescaria exitosa realizada na Beirada da Canoa.
Cláudio fez o seguinte relato: “Meu pai era administrador de uma fazenda, nas margens do rio Almada, antes de Aritaguá. Havia na margem do rio uma extensa área manguezal que adentrava boa parte da terra firme. Além do trecho normalmente inundado havia outra parte aonde a água só chegava por ocasião das enchentes das marés, especialmente nas de águas vivas, isto é, nas marés de lua nova e de lua cheia. Como vocês bem sabem os manguezais além de funcionarem como filtros, melhorando a qualidade da água, também realizam a função de berçário de diversas espécies ictiológicas e de área de alimentação. Durante as enchentes das marés muitas espécies de peixe os adentram para alimentar-se, inclusive de peixes de pequeno porte. É muito freqüente após a rápida descida das águas (nas vazantes das marés) alguns peixes que perdem o “time” ficarem aprisionados em pequenas poças d’água e se não forem auxiliados por pessoas que os devolvam ao curso do rio terminam por morrer. Quando quem os encontra nesta situação não tem consciência ecológica seu destino é a panela.
Pois bem, meu pai era um homem rústico que não teve a oportunidade de ser educado com tal tipo de conscientização e caso encontrasse um peixe nesta situação normalmente o levaria para casa, para melhorar sua dieta de proteínas. Além disso, havia um fato muito interessante. Meu pai tinha um gato preto, muito esperto cujo nome (coincidentemente) era Bichano. Este gato desenvolveu uma enorme habilidade. Todas as vezes que ocorria uma maré grande, com inundação da área interna do manguezal, ele se deslocava até lá e caçava os peixes (especialmente tainhas) que ficavam aprisionados nas poças. De início Bichano apenas comia os peixes até se fartar, porém depois meu pai passou a acompanhá-lo exatamente quando a maré começava a vazar e pegava o excedente das capturas realizadas. Com a prática Bichano adquiriu o hábito de levar para casa o excedente de suas pescarias, independentemente da presença de meu pai. As habilidades de Bichano não ficaram por aí, seu organismo desenvolveu um sentido especial que se manifestava por ocasião das conjunções das luas nova e cheia.
Bichano, exatamente na véspera, dia exato e seguinte, quando ocorrem as marés de grandes amplitudes, ficava com os pelos eriçados e miava repetidamente, como se estivesse convidando uma parceira no cio para as labutas da reprodução. Por volta das nove e meia da manhã e das vinte e trinta da noite (hora da baixa-mar) Bichano já estava perto das poças, para retirar os peixes descuidados. Claro que não saia de casa na hora exata, tomava a cautela de dirigir-se para os locais de captura cerca de uma hora antes, pois poderia ocorrer um maior ou menor volume de água, a depender da força dos ventos. Além disso, alguns locais secavam primeiro e ele não queria perder espaço para os guaxinins e as raposas, que também pegavam peixes, eventualmente.
As habilidades halieuticas de Bichano se desenvolveram da tal maneira que ele além de levar sempre o excesso de suas pescarias para casa, passou a fazer sinal para meu pai, para acompanhá-lo, sempre que havia excesso de peixes. Desse modo a colaboração para aumentar o estoque de alimentos em casa de meu pai passou a ser tão grande que houve necessidade de salgar os excessos, para fins de conservação.
A habilidade de Bichano passou a ser essencial para a economia de meu pai, que passou a dispensar-lhe cuidados especiais: visitas ao veterinário, medicação especial, quando necessário, comida balanceada, etc. Tudo necessário e até mesmo coisas supérfluas passaram a constar das atenções para com Bichano.
Além disso, visando melhorar ainda seu desempenho, meu pai desenvolveu uma panacéia específica para as unhas de Bichano. Retirava tintura da casca do mangue vermelho, misturava com leite da mangabeira, resina de eucalipto e mais dois outros elementos que mantinha em segredo. Este preparado era aplicado nas unhas de Bichano e elas ficavam mais longas, fortes, afiadas e um pouco mais recurvadas e bastante duras (à semelhança de um anzol forte e bem afiado).
Quando Cláudio acabou de contar as façanhas de Bichano eu passei ter um interesse especial na panacéia. Eu mesmo, caminhando para os oitentinha, poderia beneficiar-me do novo enrijecedor, sem submeter-me ao risco de óbito (com tem ocorrido com freqüência com os usuários de alguns estimulantes). Além do uso pessoal eu pretendia patentear o produto e passar a fabricá-lo. Afinal de contas esta seria a grande oportunidade de voltar a ser rico, depois da derrocada do cacau, com o advento da vassoura-de-bruxa.
Pedi a Cláudio de me apresentasse a seu pai, pois pretendia propor-lhe o negócio pessoalmente. Claudio deu-me então uma desanimadora notícia. Seu pai havia falecido há dois anos e não revelara a formula do enrijecedor de unha a ninguém.
Fiquei profundamente triste com a notícia pois além de perder a oportunidade de voltar a ser rico deixei, também, de proporcionar aos sexagenários a chance de voltar a desempenhar o salutar esporte, conhecido como atletismo de alcova, sem os riscos de morrer num motel após vacinar-se com um comprimido “azulzinho”.
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