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sexta-feira, 27 de maio de 2011

OS INVENTORES DE VERDADES

O GATO PESCADOR

Hoje vamos focalizar uma historia interessantíssima que me foi contada por Cláudio, ex-gerente da náutica do “Iate”, quando do retorno de uma pescaria exitosa realizada na Beirada da Canoa.
Cláudio fez o seguinte relato: “Meu pai era administrador de uma fazenda, nas margens do rio Almada, antes de Aritaguá. Havia na margem do rio uma extensa área manguezal que adentrava boa parte da terra firme. Além do trecho normalmente inundado havia outra parte aonde a água só chegava por ocasião das enchentes das marés, especialmente nas de águas vivas, isto é, nas marés de lua nova e de lua cheia. Como vocês bem sabem os manguezais além de funcionarem como filtros, melhorando a qualidade da água, também realizam a função de berçário de diversas espécies ictiológicas e de área de alimentação. Durante as enchentes das marés muitas espécies de peixe os adentram para alimentar-se, inclusive de peixes de pequeno porte. É muito freqüente após a rápida descida das águas (nas vazantes das marés) alguns peixes que perdem o “time” ficarem aprisionados em pequenas poças d’água e se não forem auxiliados por pessoas que os devolvam ao curso do rio terminam por morrer. Quando quem os encontra nesta situação não tem consciência ecológica seu destino é a panela.
Pois bem, meu pai era um homem rústico que não teve a oportunidade de ser educado com tal tipo de conscientização e caso encontrasse um peixe nesta situação normalmente o levaria para casa, para melhorar sua dieta de proteínas. Além disso, havia um fato muito interessante. Meu pai tinha um gato preto, muito esperto cujo nome (coincidentemente) era Bichano. Este gato desenvolveu uma enorme habilidade. Todas as vezes que ocorria uma maré grande, com inundação da área interna do manguezal, ele se deslocava até lá e caçava os peixes (especialmente tainhas) que ficavam aprisionados nas poças. De início Bichano apenas comia os peixes até se fartar, porém depois meu pai passou a acompanhá-lo exatamente quando a maré começava a vazar e pegava o excedente das capturas realizadas. Com a prática Bichano adquiriu o hábito de levar para casa o excedente de suas pescarias, independentemente da presença de meu pai. As habilidades de Bichano não ficaram por aí, seu organismo desenvolveu um sentido especial que se manifestava por ocasião das conjunções das luas nova e cheia.
Bichano, exatamente na véspera, dia exato e seguinte, quando ocorrem as marés de grandes amplitudes, ficava com os pelos eriçados e miava repetidamente, como se estivesse convidando uma parceira no cio para as labutas da reprodução. Por volta das nove e meia da manhã e das vinte e trinta da noite (hora da baixa-mar) Bichano já estava perto das poças, para retirar os peixes descuidados. Claro que não saia de casa na hora exata, tomava a cautela de dirigir-se para os locais de captura cerca de uma hora antes, pois poderia ocorrer um maior ou menor volume de água, a depender da força dos ventos. Além disso, alguns locais secavam primeiro e ele não queria perder espaço para os guaxinins e as raposas, que também pegavam peixes, eventualmente.
As habilidades halieuticas de Bichano se desenvolveram da tal maneira que ele além de levar sempre o excesso de suas pescarias para casa, passou a fazer sinal para meu pai, para acompanhá-lo, sempre que havia excesso de peixes. Desse modo a colaboração para aumentar o estoque de alimentos em casa de meu pai passou a ser tão grande que houve necessidade de salgar os excessos, para fins de conservação.
A habilidade de Bichano passou a ser essencial para a economia de meu pai, que passou a dispensar-lhe cuidados especiais: visitas ao veterinário, medicação especial, quando necessário, comida balanceada, etc. Tudo necessário e até mesmo coisas supérfluas passaram a constar das atenções para com Bichano.
Além disso, visando melhorar ainda seu desempenho, meu pai desenvolveu uma panacéia específica para as unhas de Bichano. Retirava tintura da casca do mangue vermelho, misturava com leite da mangabeira, resina de eucalipto e mais dois outros elementos que mantinha em segredo. Este preparado era aplicado nas unhas de Bichano e elas ficavam mais longas, fortes, afiadas e um pouco mais recurvadas e bastante duras (à semelhança de um anzol forte e bem afiado).
Quando Cláudio acabou de contar as façanhas de Bichano eu passei ter um interesse especial na panacéia. Eu mesmo, caminhando para os oitentinha, poderia beneficiar-me do novo enrijecedor, sem submeter-me ao risco de óbito (com tem ocorrido com freqüência com os usuários de alguns estimulantes). Além do uso pessoal eu pretendia  patentear o produto e passar a fabricá-lo. Afinal de contas esta seria a grande oportunidade de voltar a ser rico, depois da derrocada do cacau, com o advento da vassoura-de-bruxa.
Pedi a Cláudio de me apresentasse a seu pai, pois pretendia propor-lhe o negócio pessoalmente. Claudio deu-me então uma desanimadora notícia. Seu pai havia falecido há dois anos e não revelara a formula do enrijecedor  de unha a ninguém.
Fiquei profundamente triste com a notícia pois além de perder a oportunidade de voltar a ser rico deixei, também, de proporcionar aos sexagenários a chance de voltar a desempenhar o salutar esporte, conhecido como atletismo de alcova, sem os riscos de morrer num motel após vacinar-se com um comprimido “azulzinho”.

terça-feira, 24 de maio de 2011

ESPAÇO VERDE

LIXO

Uma das grandes preocupações do mundo moderno é com a produção exagerada de lixo e sua disposição final. A ausência de cuidados especiais, inclusive a falta de aplicação de tecnologias  adequadas, resulta na ocupação tumultuada de áreas próximas de importantes centros urbanos (tornando-as insalubres) além de poluir rios, o mar e contaminar o lençol freático.  Até mesmo o manejo bem feito, com o estabelecimento de aterros sanitários que atendam as normas recomendadas, implica na inutilização de áreas que poderiam ser utilizadas na expansão urbana.
Muitos países do mundo já estão utilizando técnicas modernas de manejo, com reutilização de grande parte dos rejeitos e transformação de vários elementos altamente tóxicos e contaminadores em gazes que podem ser utilizados em vários setores da indústria. Tal processo resulta de superaquecimento provocado por reatores. Este processo é chamado de tochas e no ano passado foi feita uma demonstração na UESC, por uma empresa de São Paulo. À medida que a temperatura vai se elevando alguns tipos de gás vão sendo liberados e aprisionados.  Tais gases tem utilização variada em determinado tipo de produtos industrias.
Baixemos, entretanto à nossa realidade. Não temos sequer um aterro sanitário funcionando de modo adequado. A CONDER está colaborando com a Prefeitura de Ilhéus tentando transformar o lixão do Itariri num aterro sanitário, porém o projeto está sofrendo grande atraso. Mesmo que o aterro venha a funcionar corretamente ainda assim teremos grandes problemas. Manejo de lixo é muito caro e não depende apenas do poder público. Coleta seletiva ou no mínimo discriminada (separar o orgânico do reutilizável ou reciclável) não se implanta sem efetiva participação e colaboração da comunidade.  Projetos desta natureza devem ser precedidos de amplas campanhas educativas, inclusive utilizando-se os espaços institucionais nas rádios, jornais, televisões e hoje, especialmente, na INTERNET.
Se quisermos colaborar com o poder público deveremos separar todo o lixo orgânico e se possível  fazer compostagem em nossos quintais. Caso não possuamos tal espaço separá-lo para que o município tome tal providência em seu aterro. Tal técnica necessita ser imediatamente implantada nos distritos e povoados, já que a administração municipal não dispõe de patrulhas mecanizadas em tais áreas.  Por outro lado, nas áreas rurais praticamente todos os moradores possuem quintais nas suas residências.  Na minha casa e no meu sítio já uso tal método há muito tempo.
Em futuras matérias estaremos orientando nossos conterrâneos a fazer compostagem e reutilizar óleo de cozinha.  

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A FACE HILÁRIA DA CIDADE

O ESTIVADOR

O antigo porto de Ilhéus, situado na enseada do rio Cachoeira recebeu, durante um considerável período, navios de grande porte, tanto de passageiros como cargueiros, até que a barra do morro de Pernambuco sofreu considerável assoreamento, inviabilizando o acesso. Os cargueiros, em sua maioria, eram de bandeira sueca, embora outros americanos, russos, holandeses, etc., também aqui aportassem. Tais navios transportavam especialmente cacau para a Europa. De um modo geral todos esses navios eram chamados pela população de suecos, independentemente das suas nacionalidades.
O personagem principal enfocado nesta história é o ilheense Oseas, mais conhecido pelo apelido de SUECO. Ele era um dos mais de vinte filhos de prolífico cidadão que se relacionou com várias mulheres. O próprio Sueco dizia desconhecer todos os seus irmãos e contava uma passagem superinteressante. Dizia que seu pai tinha tantas mulheres que uma delas era ao mesmo tempo sua mãe e sua irmã, e explicava: “Meu pai relacionou-se com uma mulher que já tinha uma filha, quase da minha idade. Rompeu tal vínculo e passou a viver com a enteada. Desse modo a esteada que era minha “irmã” ao mudar de “status” passou a ser minha “mãe”.
O apelido sueco deveu-se ao fato de Oseas na adolescência frequentar o cais do antigo porto e relacionar-se com os marinheiros dos diversos navios, prestando-lhes vários favores. Vendia ou trocava whisky por álcool (os russos, especialmente, só gostavam de bebida forte e chegavam a beber a bebê-lo com 90º. Além disso, os levava para o brega (Rua do Dendê e do Sapo) onde servia de intérprete). Foi desse modo que aprendeu a falar inglês e que ganhou o famoso apelido. Tornou-se tão conhecido entre os marinheiros estrangeiros e até mesmo da oficialidade que conseguiu embarcar como clandestino num navio de bandeira americana e chegar aos Estados Unidos. Lá conseguiu seu primeiro emprego num restaurante, onde começou descascando batatas e fazendo outros serviços como auxiliar de cozinha, passando a cozinheiro e garçom, Este restaurante tinha uma peculiaridade. Eram os próprios funcionários responsáveis pela apresentação dos shows. Desse modo Sueco aprendeu a sapatear, tocar piano, bateria e a imitar cantores famosos como Bing Crosby, Perry Como, Frank Sinatra, Tony Benett, Frank Lane, Billy Eckstine, Louis Armstrong e Gene Kelly. Contava que lutou na guerra da Coréia como voluntário. Após a guerra veio para Santos, onde entrou para a estiva.
Eu o conheci aqui em Ilhéus, na época do jogo, que funcionava nas boates do Ilhéus Hotel, O.K., e Vogue. Onde ele estava sempre havia uma grande concentração de pessoas ouvindo atentamente suas histórias. Ele dramatizava as narrativas, fazendo gestos largos, expressões faciais correspondentes à sua atuação ou de qualquer outro personagem da história, franzindo o cenho, escancarando o sorriso, fingindo chorar, dando rasteira, soco, pontapé, escorregando, fugindo, etc. Cada passagem era interpretada até com voz especial para cada participante da história. Outra peculiaridade digna de menção é que ele quando contava qualquer caso em que era personagem sempre levava desvantagem. Se era briga, apanhava, em negócio, tinha prejuízo, com mulheres sempre era passado para trás. Sem contar vantagem conseguia sempre atrair simpatia dos seus ouvintes. Na boate “OK” sempre o encontrava ou após o término do show costumava jantar no seu restaurante Blue Moon, na Rua do Sapo.  O aludido restaurante só preparava filé mignon com acompanhamentos diversos. Os principais pratos eram o “Tornedos à Rossini”, “Chateaubrind”, “Scalopini”, “Poivre ao Madeira” “À Oswaldo Aranha” e “Roncolho” (este era uma filé com fritas, arroz e apenas um ovo). Os pratos eram preparados por ele mesmo, que tinha uma habilidade enorme para apresentar inovações, especialmente na feitura de batatas. Foi a primeira vez que vi batatas “Rostie” além de outras variedades que não conhecíamos por aqui.
Quanto a maneira de trajar era também bastante original e exótico. Seus ternos eram normalmente de cores claras (branco, creme, cinza, lilás, etc.), os tecidos eram o linho, rayon, “Palm Beach” e “Panamá”. As gravatas eram bem espalhafatosas, com motivos havaianos: mulheres nuas, coqueiros, sufistas e coisas do gênero. Quando trajava esporte usava “jeans” e camisas do gênero das gravatas. No bolso do paletó pendia sempre um lenço que mais parecia uma gaivota em pleno voo – lembrando o saudoso Nagib Daneu.
Foi mais ou menos nessa época que apareceram por aqui George Green (famoso cantor panamenho, de calipso, salsa, merengue e outros ritmos caribenhos) e sua companheira, a portenha Anita, que era dançarina solo. Ambos se apresentavam na “OK” em shows separados e tinham uma legião de fãs. Após concluir o tiro de guerra fui estudar no Rio de Janeiro e morei na Rua Paula Freitas, no ap. nº 509, do Edifício Newton, passando a vir a Ilhéus apenas nas férias, onde encontrava ocasionalmente Sueco. No mesmo prédio em que eu estava morando no Rio, moravam George Green e Anita, no apt. 705. George se apresentava às noites do “Scotch Bar” e também integrava o show da Boate Night and Day, dirigido pelo  famoso Carlos Machado. Num determinado dia eu voltava para casa e saltei de um lotação na esquina da N.S. de Copacabana com Paula Freitas, quando encontrei Sueco no boteco “Caruso”. Ele fez uma festa enorme e me convidou para tomar um chope, dizendo ter muitas novidades para me contar. Começou a narrativa: “Olha Antônio, outro dia encontrei aqui mesmo nesta esquina Anita, a mulher George Green. Convidei-a para um chope e batemos longo papo. Perguntei-lhe por George e ela me disse que estavam separados. Ele estava morando com uma mulata, passista da Portela, que também se apresentava no show de Carlos Machado.” Depois de bebermos vários chopes ela me convidou para beber um “Cuba Libre” em seu apartamento. “Lá chegados serviu os drinques e ligou o som, colocando discos de música caribenha (mambos, rumbas, guarachas, salsas, calipsos, merengues). Bebemos bastante dançamos. Em determinado momento, quando estávamos sentados no sofá da sala ela, absolutamente de inopino, pegou meu bilau e beijou no capricho. Eu tomei um grande susto, porém logo me recompus. Por uma questão de princípio não gosto de ficar devendo favor a ninguém. Fiel aos meus princípios, BEIJEI-LHE A XERECA.