Quem sou eu

Minha foto
PROVE SEU AMOR POR ILHÉUS. NÃO VOTE EM LADRÃO, OPORTUNISTA OU DESPREPARADO

sexta-feira, 16 de março de 2012


À SOMBRA DA GAMELEIRA

CASAMENTO ANULADO
PROTAGINISTAS:
 I - ZEZEU MARAJÓ era o filho caçula de um rico fazendeiro de cacau. Logo que concluiu o curso ginasial, ganhou um Camaro conversível de presente e deixou de estudar, como faziam os filhos de fazendeiros ricos, em sua esmagadora maioria. Raros entendiam ser importante cursar a universidade e abraçar uma profissão liberal.
Também não cuidou de abrir um negócio que lhe proporcionasse uma boa renda e uma atividade econômica permanente. Preferiu acompanhar seu pai nas visitas semanais às fazendas e utilizar o restante do tempo para os folguedos. Não dispensava os famosos babas na praia de Av. Soares Lopes e as rodas de bar, com os amigos, bebericando cerveja, whisky, etc. De temperamento esquentado costumava discordar de tudo e iniciar arruaças. Não era bom de briga, mas logo sacava uma arma de fogo ou um facão, afugentando seu oponente. O que ele gostava mesmo era de confusão. Boa parte dos jovens de sua idade evitava sua companhia. Seguiu nesse tipo de vida até completar quarenta e cinco anos de idade. Não teve durante todo esse tempo de vida uma namorada fixa.
I I - GENOLINA ALEGRETE DA SILVA era a filha mais velha de um casal de comerciantes abastados. Concluiu o curso de ginásio e viu suas duas irmãs mais novas casarem-se enquanto ela não conseguia um namorado. Não perdia a esperança de casar-se e ter filhos. Já estava com os joelhos ralados de tanto rezar para Santo Antônio, na esperança de lhe arranjar um namorado. Viu, com uma ponta de inveja, suas irmãs mais moças casarem-se, até mesmo a caçula de dezessete anos. Já completara trinta e dois anos e nada de pretendente, Nem mesmo solteirões sem boa aparência lhe dirigiam qualquer gracejo. Deus é mais – dizia -, e tome-lhe promessa para arranjar alguém.
III – PAI CID AÇU era um famoso Babalorixá, estabelecido com um tradicional terreiro no Distrito de Olivença. Incorporava o “Caboclo Tupinambá” e desfrutava de enorme prestigio entre os seguidores do candomblé. Segundo alguns, operava verdadeiros milagres, realizando inúmeras curas, através de seus despachos, preparo de panacéias, etc. Filho de família tradi- cional, de origem polonesa, dedicou-se ao estudo de religiões orientais e exóticas, tornando-se especialista em seitas africanas, Umbanda, Kimbanda e Keto.
A HISTÓRIA
Num determinado dia Genolina estava sentada num banco da avenida quando passou Zezéu num Camaro novo. Ao passar em frente acionou a buzina do carro e ela automaticamente olhou. Zezéu abriu vasto sorriso imediatamente correspondido. Completada a volta na avenida Zezéu parou o carro e convidou-a para dar uma volta. É agora ou nunca, pensou Genolina, e logo sentou-se ao lado de Zezéu. Desse modo começou o namoro mais esperado pelos familiares de ambos, que já os consideravam dentro do “barricão”.
Passou um ano e veio a festa de noivado, reservada aos parentes e amigos muito próximos das respectivas famílias. No período de noivado cuidaram de adquirir apartamento e mobiliá-lo de acordo com o gosto do casal.
O casamento, embora pomposo, ficou adstrito aos familiares e amigos mais íntimos, como já ocorrera no noivado. Após a recepção, onde Zezéu, abusou um pouco do whisky e do champanhe, recolheram-se ao apartamento, onde deveriam passar a noite de núpcias e viajar no dia seguinte para o Rio de Janeiro, em “lua-de-mel”. Ao chegar em casa Zezéu tomou um banho, vestiu o pijama e “caiu na cama”, já roncando, em estado de quase coma alcoólica. Lá se foi a primeira frustração de Genolina. Chegados ao Rio de Janeiro deixaram as malas no hotel e partiram para passeios no Corcovado, Pão de Açúcar, Mêsa do Imperador, estrada das Canoas, floresta dos Esquilos e outros pontos turísticos tradicionais. No fim tarde recolheram-se ao hotel, tomaram banho, trocaram de roupa e foram para o bar. Zezéu, como de costume, encheu a cara de whisky, antes do jantar, regado a vinho. Outra vez, bem bêbado, escornou-se na confortável cama e roncou como “gente grande”. Genolina, coitada, outra vez ficou a “ver navios”. Esta cena repetiu-se por toda a semana, até o final da “lua de mel”. Ao voltar para Ilhéus, invicta, com espessa teia de aranha na “Princesa Guilhermina”, procurou sua mãe e relatou a triste “Odisséia”. Antes de tomar qualquer providência judicial e para evitar a péssima repercussão que o caso causaria, resolveram procurar “Pai Cid Açu”, cuja fama de milagreiro conheciam.
Chegaram ao famoso terreiro e foram recebidas pelo “Pai de Santo”. Vestido a carater, “Pai Cid Açu, já incorporando o Caboclo Tupinambá, jogou os búzios e vaticinou: “É moça, Sunçê tá num mato sem cachorro. O marido de sunçê tá Borocochô mermo. Tupinambá acha que essa ziquizira num tem cura, mas prá num dizê qui sunçê saiu daqui sem uma tentativa siqué, nós vai cortá um bode preto nas encruza e passá um infuso pru borocochô, prá vê se ele alevanta a “milionária” (aquela que nunca fica dura). A receita é a seguinte: uma garrafa de vinho branco seco misturada cum “pau-de-resposta”, maripuana, catuaba, pó de guaraná e raspa de piroca de quati. Servi um cális pela manhã, um mei-dia e um à noite”. “Mermo seguindo recomendação a risca num credito no milagre – mas num custa nada tentá”. Além disso faça comida cum muito marisco (ostra crua, lambreta, sururu, etc.) e no café da manhã muito aipim cozido e bolo da macaxeira mansa, conhecida por aipim cacau”. Não custa tentá, porém Caboco Tutinambá acha qui num vai diantá; o marido de sunçê tá brocha mermo”.
Genolina saiu da sessão muito triste, porém partiu para a última tentativa. Seguiu à risca as recomendações do prestigiado “Pai Cid Açu”. No primeiro e segundo dias Zezéu comeu tudo que lhe foi oferecido, inclusive as doses do infuso. Ao ver no terceiro dia bolo de aipim e aipim cozido no café da manhã procurou saber dos amigos prá que servia aipim e foi informado que era bom para o tesão. Sentiu-se profundamente ofendido. Mexeram no seu complexo. No quarto dia chegou à mesa e quando viu o prato de aipim cozido, sacou o revolver e obrigou Genolina comer toda a porção. Mesmo entalada teve que comer até o último pedaço do afrodisíaco. Da mesa correu direto para a casa dos pais e relatou o sucedido. Procuraram um advogado amigo e no mesmo dia ingressaram em juízo com uma ação de nulidade de casamento, relatando na inicial todo o fato e solicitando perícia médica para comprovar que o casamento não fora consumado. A requerente continuava absolutamente virgem. A Princesa Guilhermina não fora tocada, nem de leve. Espessa teia de aranha insistia em protegê-la.
Citado pelo Oficial de Justiça do inteiro teor da inicial, Zezéu deixou o feito correr à revelia. Viajou para o Rio de Janeiro onde fixou residência definitiva, isto é, até morrer, cinco anos depois, ostentando o honroso título de BOROCOCHÔ.

Nenhum comentário:

Postar um comentário