CINE
TEATRO ILHÉOS.
PRELIMINARMENTE:
- Confesso-me constrangido ao ser obrigado a tratar do assunto constante do
título da matéria, porém sinto-me no dever de fazê-lo, tendo em vista o que foi
publicado na edição de 05/04, pag. 7, deste prestigioso Jornal.
Embora a
referida matéria seja rica em alguns detalhes é omissa, “permissa vênia” quanto
a aquisição pelo município de Ilhéus do prédio onde se situa esta importante
casa de espetáculos.
Longe de mim querer aproveitar o espaço da coluna Cantinho
do Pescador para qualquer tipo de promoção pessoal. Tomo tal atitude apenas no
intuito de restabelecer a verdade – omitida em grande parte, na matéria que
tratou da reforma do Cine Teatro Ilhéus, referindo-se à História do Teatro.
A HISTÓRIA QUE
NÃO FOI CONTADA.
Na década de 60
meu pai – Antônio Olympio da Silva- comprou o Cine Teatro Ilhéus a Hermínio
Martins e o cedeu à empresa Cine Sul (exibidora de filmes) que possuía extensa
rede de cinemas em Ilhéus (Cine Brasil, Aliança e Guarany), Itabuna, Itajuipe,
Coaraci, Ibicaraí, Itapetinga e Vitória da Conquista.
No início da
década de 70 o prédio entrou em reforma. Pretendia-se retirar os camarotes,
modificar a estrutura das paredes e do teto além de construir novas instalações
sanitárias e ampliar o mezanino. Ao tentar demolir a parede lateral – logo após
o “Ponto Chic” surgiu o grande problema. A parede fora construída com grandes
pedras ligadas com argamassa com óleo de baleia (técnica de construção
portuguesa). Fernando (meu irmão) e Valdir, sócios da empresa Cine Sul,
desistiram da reforma, coincidentemente na ocasião em que desfizeram a
sociedade. Desse modo o prédio ficou sem utilização temporária, servindo de
valhacouto para pivetes e marginais, que tinham acesso ao seu interior pela
brecha aberta na parede lateral.
Em l976 elegi-me
prefeito de Ilhéus e após ter assumido a administração municipal, recebi uma
proposta de Ary Heine (pai de Maria Luiza, à época esposa do mano Ruy Diógenes,
no sentido de nos associarmos na construção de um hotel na área. Levei a proposta
à apreciação de minha mãe e os demais membros da família (filhos, noras e
genros),que marcou uma reunião para discutir o assunto. José Fialho, José Moura
Costa e Wilson Rosa (maridos das irmãs Maria Lygia, Maria Heloina e Maria
Beatriz) posicionaram-se contrários à proposta, sob o argumento de que “meu
pai, se estivesse vivo, provavelmente, gostaria que a Cidade conservasse um
pouco da sua história, preservando a antiga casa de espetáculos.
Minha mãe então
sugeriu que colocássemos em votação a proposta de construção do hotel ou a que
apresentava de doação do prédio ao Município de Ilhéus. Embora fosse dona de
metade do imóvel (viúva meieira), declarou que seu voto teria o mesmo valor dos
demais condôminos. Todos (filhos, noras e genros) votaram pela doação, exceção
de Fernando, que declarou não ter qualquer motivação para abrir mão de parte de
seu patrimônio. Aduziu, ainda, que pouquíssimas pessoas dariam valor àquele
ato, pois gratidão e reconhecimento são muito raros ou simplesmente não existem
quando pessoas ligadas a determinados grupos políticos não fazem parte do naipe
dos doadores.
No dia 28 de
junho (aniversário da cidade) coloquei no programa de atividades comemorativas:
Missa de Ação de graças, doação do prédio do Cine Teatro “Ilhéos” e inauguração
de várias obras.
O ato de doação
teve o seguinte cerimonial que foi narrado e irradiado Poe Elival Vieira
(proprietário do Foco Bahia): Lavratura e leitura da escritura de doação pelo
tabelião Raymundo Pacheco Sá Barreto, assinatura dos doadores e do representante
do Município e testemunhas. Como testemunhas assinaram Henrique Weill Cardoso e
Silva, Freitas Nobre (líder da bancada do MDB), Jorge Paulo e Hélio Souto -
todos deputados da bancada do MDB e membros da comissão de agricultura da
Câmara Federal.
Foi descerrada
uma placa alusiva ao evento constando os nomes de: Dona Heloína Rhem da Silva,
Antônio Olímpio Rhem da Silva e Maria Amélia, Maria Lygia e José Fialho Costa,
Maria Heloína e José Dunham Moura Costa, Maria Beatriz e Wilson Rosa da Silva e
Ruy Diógenes Rhem da Silva e Maria Luíza Heine. Pelos convidados falou o
Deputado Freitas Nobre que enfatizou o fato de “pela primeira vez ele teve
notícia e presenciou um ato de tamanha significação, onde um prefeito e sua
família doavam um prédio histórico e de grande valor comercial a uma cidade,
para integrá-lo ao patrimônio cultural e histórico da municipalidade. Tal
atitude deveria servir de exemplo a uma grande maioria de políticos que exercem
o poder apenas para levar vantagens pessoais”.
Tal referência
foi repetida à noite, no discurso proferido na inauguração da Praça Cairú.
Com a doação, eu
pretendia recuperar o Cine teatro “Ilhéos” e reinaugurá-lo por ocasião do
centenário em 1981, com uma nova designação: Casa da Cultura Adonias Filho. À
época o ilustre Ilheense era o presidente do Conselho Federal de Cultura.
Adonias alocou
recursos no orçamento da instituição para pagamento do projeto arquitetônico
(CR$ 450.000,00), que ficou a cargo do também Ilheense Carlos Reis Campos
(filho de Dr. Aristeu Campos) e mais CR$ 500.000,00 para o início das obras.
Embora eu
tivesse a intenção de inaugurar a obra em 28 de junho de 1981, surgiram alguns
problemas incontornáveis de imediato. Minha mãe tinha excluído da doação a
parte do “Ponto Chic” sob a alegação de que Gileno Araújo começara sua vida
como pequeno empresário naquele local e não queria deslocá-lo do ponto. Adonias
aduziu que aquele apêndice do prédio estava integrado à sua arquitetura, que
devia ser conservado.
O projeto feito
pelo arquiteto Carlos reis Campos utilizava a referida área e a modificava.
Como Fernando não doou sua parte o Município teria que desapropriá-la e ainda
convencer minha mãe a doar a parte do ponto Chic. Também a parte de Fernando do
referido imóvel teria que ser desapropriada. Não haveria tempo para cumprir as
formalidades judiciais da desapropriação e reconstruir o imóvel, segundo o novo
projeto a tempo de inaugurá-lo no centenário.
Na mesma época
iniciei a construção da Central de Abastecimento, que passou a constituir-se na
prioridade número um do Governo. Resolvi deixar o problema para o sucessor.
Nesse ínterim
ruiu o teto do prédio e assim ficou até que meu sucessor, após desapropriar a
parte de Fernando e uma casa nos fundos do prédio, onde funcionava o escritório
do Cine Sul. Por ocasião da inauguração do novo teatro nenhum dos doadores
recebeu convite para o ato e a placa de doação (na parede à direita da entrada)
foi substituída por outra alusiva ao evento.
Quando me elegi,
outra vez, em 1992, nomeei Sá Barreto para a Presidência da Fundação Cultural
de Ilhéus. Sob sua administração o Cine Teatro Ilhéus passou por grande reforma
interna, com troca de poltronas, tapete novo, serviço de som, iluminação, etc.
Na reinauguração Sá Barreto prestou uma homenagem póstuma a minha mãe,
recolocando a placa alusiva à doação com o nome completo de todos os doadores.
Com o retorno de
Jabes ao governo, a placa foi outra vez retirada e substituída por outra
constando o nome completo da equipe de arquitetos e uma discreta referência aos
doadores, constando o nome “D. Heloína R. da Silva e seus familiares”.
Sem dúvida o
gesto da retirada das placas é pequeno e teve como objetivo apagar da memória
do povo o gesto da família de Antônio Olímpio Rhem da Silva.
Sem outros
comentários, mas restaurando a história, juntamos uma foto da placa acima
referida colocada a mando de Jabes para que os leitores analisem o sentido.
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